Crônica de Luciano KLÖCKNER
No leito de morte, Padre Roberto Landell de Moura, num dos últimos lampejos desta vida, teria, de maneira um tanto desesperada, chamado pelo cardeal e arcebispo de Porto Alegre na época, Dom Vicente Scherer, e lhe confidenciado um segredo em voz baixa e titubeante:
- Caro Vicente, embaixo da minha cama há uma caixa de madeira. Nela estão todos os meus segredos…
Dom Vicente, surpreso, e sem reação, teria recebido um dos últimos pedidos do Padre Landell:
- Ajoelhe-se e pegue-a. Ela agora está sob os seus cuidados.
Pouco depois, Padre Roberto Landell de Moura, o “padre louco por invenções” e que previa a comunicação pelo éter e sem fronteiras, morria no Hospital Beneficência Portuguesa, na Avenida Independência, na capital gaúcha.
A existência do tal segredo foi a mim informada por um dos sobrinhos-netos do Padre, de nome Guilherme Landell de Moura, em uma reportagem para um documentário, nos anos 80. De acordo com ele, a caixa continha um ou vários mistérios, ao qual só Dom Vicente teria acesso. Porém, sempre que perguntado sobre o assunto, Dom Vicente não confirmava a história. O encontro ocorreu ou não? Só um dos dois ou alguma testemunha do encontro poderia atestar.
A partir de então, muitas hipóteses circularam (e ainda circulam), pressionadas pela pergunta: o que havia dentro da caixa preta do Padre Landell?
Os esquemas do rádio e da televisão? Pode ser, mas eles estão todos disponíveis para pesquisas. Uma caderneta com as impressões pessoais do Padre durante as pesquisas? Talvez. A cada passo realizado técnica e racionalmente correspondiam emoções e impressões registradas por Landell. Impressões de colegas, de autoridades, de fiéis; enfim, de pessoas que o ajudaram ou obstruíram o caminho. E tudo era meticulosamente anotado em um diário pessoal.
Talvez dentro daquela caixa preta estejam não os segredos, mas um resumo da vida dele. O envolvimento com a religião, com o amor ao próximo, a firmeza de propósito, a amargura, a tristeza, a falta de apoio em vida para quem não enxergou aonde os resultados concretos da pesquisa poderiam levar a humanidade. E no ano em que Landell faria 150 anos e entra no panteão dos heróis da Pátria e tantos prestam homenagens a ele, a caixa preta parece que foi desvendada.
Afinal, temos mesmo uma caixa preta dentro de nós e buscamos o que humanamente o Padre Landell sempre buscou: o reconhecimento que, agora, parece, divinamente (e com uma pequena ajuda de algumas pessoas) lhe é concedido.
Luciano KLÖCKNER, Jornalista e Professor universitário.
E-mail: lucianoklockner@yahoo.com.br
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